terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Como fazia um tal de Hemingway

Gosto de começar cedo, antes que as pessoas e os acontecimentos me tirem do foco, e começo por reler e editar tudo o que escrevi até então. Desse modo, percorro o livro que estou escrevendo várias centenas de vezes. Então, prossigo, sem enrolação, amassando papéis, num ritmo cadenciado, pois sempre paro em um ponto em que sei precisamente o que acontecerá na seqüência. Portanto, não tenho a necessidade de acelerar o ritmo, diariamente. A maioria dos escritores descarta a parte mais difícil do trabalho: editar o texto, refinando-o mais e mais, até que ele adquira uma lâmina como a do estoque de um toureiro, a espada matadora. Certa vez, meu filho Patrick me trouxe uma história e pediu que eu a editasse para ele. Eu a li com cuidado e alterei uma palavra. “Mas, papai”, disse Mousy, “você mudou apenas uma palavra.” Respondi: “Se é a palavra certa, isso significa muita coisa”.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Dostoiévski, sobre Dom Quixote. Ou: O Maior Elogio de Todos os Tempos

"Não existe nada mais profundo e poderoso do que este livro. Se o mundo acabasse e Deus me perguntasse: 'Então, o que você aprendeu sobre a vida?', eu poderia simplesmente mostrar D. Quixote e dizer: 'Esta é a minha conclusão sobre a vida. E você? O que me diz?'"

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

MEMENTO




amigos, irmãos. Tomem vitassay, TAFFMAN-E, pois o que importa é lembrar. Esqueçam coerência, rigidez moral, excercícios sufocantes e repetitivos, sentimentalismo barato e orgulho frouxo. Escrevo porque lembro de escrever, porque lembro de sentir, porque lembro de que sentir falta é o grande postulado. Toda a tua habilidade de conectar, articular e organizar seu discurso, sua massa crítica e tua voracidade amorosa está atrelada ao que você lembra do que é importante guardar. Memória, só isso nos pertence. Servir-se da própria inteligência e beber a sopa da tua história. Neste exato momento você mal consegue processar tudo o que ocorreu desde o nascimento,embricando com tudo aquilo que se projeta pro depois e eclode na doença da civilização ocidental: a obsessão pelo transcender. Esquecer o deslocamento compulsivo pelo o que evoca às frustrações do passado e à expectativa em relação ao futuro. Viver com a robustez da lembrança e só. Vigor físico para caminhar e vigor intelectual para registrar a caminhada. Vive mais quem lembra mais, premissa basilar. Lembrar de suas habilidades, do que as pessoas queridas disseram, de onde você guardou tudo aquilo que te espanta e te emudece, lembrar desse fio condutor invisível que construiu essa coleção de acidentes inexplicáveis que é a sua trajetória pessoal. Lembre-se, babaca. Memória é tudo. E estamos perdendo para qualquer computador.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Um apelo

"Se você for embora, por favor, não demore."

"Para ir ou para voltar?"


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

bom....fica pra próxima!




Estava entediado no trabalho e resolvi ler algo a respeito de Bertrand Russel, importante matemático, filósofo e lógico do séc. XX. Me deparei com a seguinte frase.

"Trata-se, segundo Russell, de se imporem certas restrições à suposição de que qualquer propriedade que pode ser predicada de uma entidade de um tipo lógico possa ser predicada com significado de qualquer entidade de outro ou do mesmo tipo lógico. O tipo de uma propriedade deve ser de uma ordem superior ao tipo de qualquer entidade da qual a propriedade possa com significado ser predicada."


domingo, 30 de novembro de 2008

Erro de Digitação

Webcam ligada.

"E aí, delicinha, o que você quer que eu faça agora, hein?"

"Pega sua mãe e coloca no seu pai..."

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Calvin:

"A vida fica bem mais fácil se você mantiver as expectativas de todo mundo baixas."

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

efeito bumerangue

Estabelecimento precário, funcionários insatisfeitos. Medo da gerência? É fácil, comece a trabalhar de forma ignóbil, errando, atrasando os pedidos, fofocando, fazendo muita merda. Demissão? Se os funcionários estiverem INSATISFEITOS como você, talvez o péssimo nível de funcionamento do estabelecimento distribua um pouco do desespero e da raiva personalizada dos patrões. Não se pode vencer um chefe sozinho? bata a colher na mesa, é revolucionário. Instituição precária, funcionários insatisfeitos. Mesma lógica. Omissão, deleixo. Instituição decadente até a falência. E a força do patrão? Não existe sem a força dos subordinados. Cidade decadente, cidadania precária. Não há coragem pra vencer os glutões? Não esquente a comida deles. País corrupto, classe média oprimida. Não pague IPTU e condomínio. Lei da conservação da energia. Pra provocar um fominha, basta não comer nada. A apatia tem muito mais força do que supõe a nossa vã filosofia.

sábado, 15 de novembro de 2008

Nada de Pânico

“Srs. Condôminos, gostaríamos de informar que nesta segunda-feira, dia 13, profissionais da área de segurança farão a manutenção no sistema de alarme de incêndio do prédio. Ele será disparado algumas vezes entre as 14 e as 15hs, mas pedimos que, por favor, desconsiderem. Agradecemos desde já a compreensão de todos.”

E a fagulha, desavisada, foi cair no carpete justo às 14h47.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Corpo Estranho

Tentaram de todas as formas exterminar o corpo estranho. Passaram álcool. Jogaram desinfetante. Cutucaram. Deram chutes, cabeçadas, pisões com toda força. Rasparam com gilete. Lixaram com uma lima. Tentaram esmagar com uma marreta. Deixaram cair uma bigorna do décimo andar. Fizeram furos em toda sua superfície. Atiraram pedras, tijolos. Deram machadadas. Defumaram. Desidrataram. Derramaram ácido sulfúrico. Atropelaram. Passaram por cima, deram ré, passaram de novo. Com um rolo compressor. Contrataram atiradores de elite. Soltaram cães hidrofóbicos em sua direção. Injetaram vírus. Dispararam lasers. Tacaram gasolina e, em seguida, fogo. Arrumaram um lança-chamas. Incineraram tudo a sua volta. Usaram dinamite. Explodiram uma bomba. De Napalm. Em vão. Frustrados, desistiram. O corpo estranho continuou lá. E pensar que ninguém teve a bendita idéia de simplesmente resgatá-lo.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Faxina

Despertou com o som da campainha. Recolheu os papéis, todos espalhados pela mesa. Depois, com um esfregão e um balde d`água, começou a retirar as manchas de sangue do chão acarpetado. Como não tinha sabão, precisou fazer muita força. Em seguida, juntou o vestido – também ensangüentado -, a meia-calça, os sapatos e a roupa de cama. Pôde sentir o cheiro de cânfora enquanto levava a trouxa em direção à máquina de lavar. Por último, empilhou os livros de anatomia e, quase tropeçando, os atirou de qualquer maneira dentro do armário. Pronto. A faxineira podia entrar. Já estava tudo arrumado.

Ironias saborosas desse momento histórico

Essa foto eu tirei de dentro do ônibus, vindo pro trabalho. Era um caminhão de BATATAS FRITAS.




E logo abaixo estava escrito: PRODUTO PERECÍVEL.

Ironia é "batata".

sábado, 8 de novembro de 2008

Obs

"Você é uma pessoa muito observadora."
"Pelo visto, você também."

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O Desperdício

Depois de acender, com um fósforo, o cigarro prontamente cedido pelo dono do bar, avistou um cinzeiro do outro lado daquele amontoado de mesas acopladas. Antes de pedir a um dos muitos amigos presentes que o passasse, pensou: “por que não?” Arremessou o fósforo apagado com a confiança de um predestinado. Quando o palito, depois de viajar pelos ares, aterrissou em cheio naquele amontoado de cinza alheia, um sorrisinho lhe escapou pela boca. Passou os olhos por todo o circuito da mesa - que, na verdade, eram várias -, buscando alguma admiração pela sua façanha. Mas seus companheiros não enxergavam nada, além de viagens, mulheres e futebol.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

terça-feira, 4 de novembro de 2008

categórico

"Que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem?"

Paul Valéry

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A Parte Branca do Olho

O hábito surgiu naturalmente, sem maiores explicações. Foi a professora da primeira série quem avisou à mãe. “Se eu fosse a senhora, o levaria ao psicólogo. Provavelmente é problema de timidez”. A criança olhava tudo de relance. De canto, de quina, pelas brechas do olho. Eram raras as situações em que encarava alguém, mesmo quando tal pessoa se dirigia diretamente a ele. Toda bronca que levava era acompanhada de um clima de incerteza. Alguns achavam o gesto desrespeitoso, uma afronta. Outros, uma atitude desleixada, de pouco caso. E outros, ainda, um ato covarde que poderia, no futuro, significar uma personalidade vacilante. O fato é que o menino não era um autista. Ele ouvia, entendia, até reparava – mas só com a parte branca do olho.


Quando o psicólogo perguntou porque ele o olhava daquela maneira, o menino respondeu com uma segurança nada típica de quem possui tal hábito.


“Eu olho assim porque eu gosto de jogar.”


“É? E como funciona esse jogo?”


“Eu fico só esperando. Quem eu pegar me olhando perde.”

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

terça-feira, 28 de outubro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Papinho 'chapa-branca': uma bela bosta

Na condição de grande pesquisador do comportamento humano, nunca perdi a oportunidade de denunciar um dos tipos mais picaretas de nossa espécie: o “chapa-branca”. Ele é aquele cara calmo e conciliador, que raramente traz algum tipo de fissura no discurso. Por trás daquela vaselina toda enxergamos um hediondo cagaço em dizer o que realmente pensa, com medo de desdobramentos nefastos cujas implicações vão desde uma vermelhidão facial até a falência de toda uma reputação profissional ilibada. No Brasil, o papo chapa-branca é parte da cesta básica, e começa com a nossa patética classe média, que deixa de abrir o berreiro porque tem medo de perder o empreguinho e morrer de fome, passando por notórios babaquaras televisivos, expelindo litros de reflexões precárias num espaço anômico e alheio à argumentações mais consistentes. Se posicionar é um desgaste absurdo na sociedade do medo, doravante faz-se um acampamento em cima do muro e uma enorme torcida para não ser interrogado.



MUITO caco de vidro nos pés dessa galera.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Da série o saco do meu pai


Na foto: eu e o saco do meu pai empalhado

Ser pai hoje em dia deve ser uma foda. Os cabeça-branca tem que aguentar os patéticos arroubos de onipotência juvenil, além da total falência do respeito pela diferença geracional, aquela que garantia algum sustento na magia do passado glorioso vivido pelos velhos. A pele enrugada hoje em dia só serve pra encher os bolsos da LANCÔME e afins. Besteira perder tempo educando filhos, deixemos que o Google se encarregue disso tudo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

POR QUE TENHO MEDO DE ME APEGAR A UM BARBEIRO



Sempre evitei ficar FIEL à um barbeiro, aliás, barbeiro é um termo em extinção, cada vez mais vemos homens entrando nos werners da vida,amealhados pela nova onda métrow. Tô nessa também, passei a vida inteira cortando meu cabelo em barbeiros pitorescos no largo do machado. Tinha um na galeria CONDOR que os bancos eram carrinhos de formula 1 da década de 50. Era fudido demais, cada vez que eu ia lá minhas pernas estavam maiores e a 'sentada' no banco tornava-se mais desconfortável. Mudava de barbeiro então.Mas o fato é que nunca adotei um barbeiro oficial, aquele maluco de confiança que você sabe que deixará a tampa da lata em ótimo estado.Pra começar, meu formato de cabeça - um geóide ligeiramente planificado - nunca permitiu um corte vistoso, sempre saía com a cabeça maior, com as orelhas salientadas, com mullets e todo tipo de dejeto estético. O principal motivo para que eu nunca tenha escolhido um barbeiro pra cortar sempre, foi justamente o medo de encontrar um cara que cortasse meu cabelo com maestria. Tinha medo de que finalmente uma pessoa achasse um corte perfeito pra minha cabeça intrincada, e um belo dia essa pessoa MORRESSE. Sei que todo mundo vai perecer um dia, mas perder o barbeiro de confiança me traria um desamparo capilar, problema específico demais pra ser resolvido.
Corte fudido, sempre.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

terça-feira, 16 de setembro de 2008