O hábito surgiu naturalmente, sem maiores explicações. Foi a professora da primeira série quem avisou à mãe. “Se eu fosse a senhora, o levaria ao psicólogo. Provavelmente é problema de timidez”. A criança olhava tudo de relance. De canto, de quina, pelas brechas do olho. Eram raras as situações em que encarava alguém, mesmo quando tal pessoa se dirigia diretamente a ele. Toda bronca que levava era acompanhada de um clima de incerteza. Alguns achavam o gesto desrespeitoso, uma afronta. Outros, uma atitude desleixada, de pouco caso. E outros, ainda, um ato covarde que poderia, no futuro, significar uma personalidade vacilante. O fato é que o menino não era um autista. Ele ouvia, entendia, até reparava – mas só com a parte branca do olho.
Quando o psicólogo perguntou porque ele o olhava daquela maneira, o menino respondeu com uma segurança nada típica de quem possui tal hábito.
“Eu olho assim porque eu gosto de jogar.”
“É? E como funciona esse jogo?”
“Eu fico só esperando. Quem eu pegar me olhando perde.”
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
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